Olá,
Esta é uma edição extra da Boa o Suficiente, dividida em três partes (3/3).
Se você não leu as outras edições, é só clicar aqui e aqui ou rolar até o final da página.
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Para concluir o trio de posts em que expus algumas ideias de como pode funcionar um tratamento, vou descansar as palavras sobre a duração de um trabalho de análise. É muito comum se perguntar ou escutar de alguém após um tanto de sessões: “mas até quando vou/você vai precisar fazer?”
Eu mesma já ouvi de uma pessoa próxima: “isso não acaba nunca?”
_Vai acabar, mas eu não tô com pressa
Uma resposta mais objetiva e guiada por um resultado específico pode encarar essa duração já visando a conclusão do tratamento, então “até eu não estar mais em crise”, “quando tal situação se resolver”, “após tantos encontros” e assim por diante. Busca-se, como no uso de medicamentos, por exemplo, que aquilo tenha uma data de início e uma data pra acabar, baseada em critérios mais encaixadinhos em um ciclo de adaptação, efeitos esperados, cura etc. Com a psicanálise não é assim.
Agora, vamos expandir um pouco, pensando que, enquanto a vida estiver sendo construída pelo sujeito, impasses - subjetivos, inclusive - em torno de qualquer uma de suas áreas podem surgir, e embora isso não signifique necessariamente que sempre haverá um problema a ser solucionado, é muito provável que ao longo dos dias, meses, anos, surjam fases mais tranquilas e outras mais tensas, com um espaço um tanto misterioso entre uma e outra, algo que nos leva a outro ponto dessa conversa:
A análise de uma pessoa não pode ser enquadrada previamente em um tanto X de sessões.
O trabalho pode se estender em um tempo indeterminado porque ângulos de vista, novas histórias e questões diferentes aparecem ao longo das sessões como novas curvas, subidas e descidas em um percurso que antes parecia uma reta.
Respeitando uma sazonalidade e velocidade íntimas, é significativo observar que, geralmente, aquilo que leva alguns indivíduos pra clínica, nem sempre é o que os faz ficar. Não é toda vez que será tratado diretamente apenas o que foi exposto inicialmente, mas em conjunto, outros elementos que agem sem tanto alarde, disfarçados, mas muito fortes na sustentação de incômodos maiores e que vão dando as caras à medida que a associação livre acontece e é incentivada. É por isso que Freud disse que o trabalho do analista se assemelha ao do arqueólogo :)
Uma vez, vi alguém no instagram brincando que a terapia a gente “vai fazendo e vai pagando” (dentro da possibilidade de cada um, claro), sem correr, sem um objetivo rígido guiando toda vez, mas sempre com esse olhar de cuidado com a própria história, independente da alegria ou tristeza envolvidas no capítulo. Daí que é mais comum que, uma pessoa em análise, fique por muitos meses, até anos ali, já fora da lógica de que só permanece lá quem ainda tem um sofrimento muito grande ou não melhorou e se dando o tempo de experienciar o processo, sentir, pensar, curar, reclamar, atravessar e ter uma analista junto, incentivando a escavação e oferecendo um espaço seguro pra onde se pode voltar de novo, de novo e de novo.
Isso não condena ninguém a um tratamento eterno e nem a uma via expressa; pelo contrário, até porque, quem decide dar continuidade ou não às próprias elaborações e escavações usualmente é o próprio paciente, e não a analista. Cada sessão com sua linguagem, cada posição ocupada no “divã”, uma pecinha de uma paisagem do tamanho da subjetividade de cada um.
Atualmente, disponho de horários para atendimentos online ou presenciais, na Zona Sul do Rio de Janeiro. Para marcar, você pode responder a este e-mail ou entrar em -contato pelo instagram: @racolina, que em breve retornarei ;)
Hoje, ficamos por aqui, e agora a newsletter volta à programação “normal”. As conversas geradas através dos textos estão muito bacanas, obrigada!
Espero que tenham reverberado de forma positiva, sido úteis, esclarecido alguma dúvida ou tenham incentivado o start de algumas caminhadas.