Mais, ainda #1: como é fazer análise?
respondendo algumas perguntas sobre o tratamento psicanalítico
Olá,
Esta é uma edição extra da Boa o Suficiente, dividida em três partes.
Quando recebo mensagens de pessoas interessadas na psicanálise, perguntando sobre como acontece o tratamento e outras questões gerais, geralmente proponho uma conversa inicial pra que possa não somente falar sobre como pode ser, mas também, para escutar o que leva aquela pessoa específica a busca por algum tipo de auxílio.
Imersas em uma lógica de consertos e reparos rápidos, muita gente chega com um diagnóstico, opiniões duras e definições sobre si, querendo apenas um paliativo imediato para um sofrimento específico e superficial, sem tempo ou intenção para indagação de coisa alguma, e aqui, já adianto, não é a um “retorno ao que era” que uma análise se destina, ou pelo menos não deveria.
A psicanálise, como uma modalidade de tratamento que, por seu manejo, pode ser confundida com algo que se encaixa no que corresponde a uma terapia, tem também suas particularidades, coisa que espero esclarecer mais um pouquinho a seguir e em mais duas edições em torno disso. Vamos lá.
Para quem é indicada?
Para qualquer pessoa que viva um limite doloroso, que se sinta angustiada, inquieta ou descontente de alguma forma e que entenda que, assim como algo foi construído ao longo de um tempo, sua desconstrução ou modificação não obedece a urgência e não carece de explicações prontas. Na intimidade, cada indivíduo sabe o quanto uma questão, um trauma, uma fase difícil, um sintoma, um pensamento recorrente pode gerar dificuldades e travas pelo caminho. Nenhum sofrimento é comparável. Se por qualquer motivo, a vida parece impedida, conflituosa e repetitiva, isso pode ser um convite a explorar o que sustenta e o que se diz a respeito dessa condição.
A psicanálise trata ansiedade, depressão, pânico e outros adoecimentos?
A psicanálise não se fixa em certas nomeações e entende o adoecimento como um representante, um enigma, a expressão da singularidade, um norteador para os impasses e clamores inconscientes e para as questões que atravessam a pessoa de um jeito preocupante. Temos espaço para trabalhar muitos incômodos e angústias diferentes, seja qual for o título atribuído a eles. O tratamento acontece a partir do convite à fala, aquilo que o conflito move, toca, gera e assim por diante.
Qual é a diferença entre análise e terapia?
Ambas trabalham com a fala, mas muito se diferenciam na escuta. Podemos dizer que o trabalho de análise tem como um de seus princípios oferecer ao analisante um espaço para que se espante e questione suas próprias queixas, repense suas posturas, lide de formas mais criativas com o que espera de si mesma e do outro. À medida em que se diz, de forma privada, sobre o que causa ou move sua angústia, o sujeito se perde e se encontra, se reconhece e desconhece, pode elaborar outras narrativas e tentar outras posições. Não buscamos anestesiar instantaneamente o que chega, oferecer conselhos, um conjunto de técnicas ou monitoramentos e nem reajustar a pessoa para que caiba em uma ordem específica, mas sim, dar voz e escuta ao inconsciente e suas criações, ao singular, aquilo que foge de padronizações.
Quando devo começar?
Quando quiser. Não existe um momento ideal. Não é necessário esperar a catástrofe e nem negar a importância de pequenos contratempos. Um processo analítico, aliás, é possível inclusive quando ainda não é acessível dizer exatamente o que incomoda, mas algo insiste, pede por um desdobramento.
De alguma forma, um convite acontece quando os sintomas, independente de quais forem, se tornarem maiores, repetitivos e mais pesados do que a capacidade de seguir adiante com a vida.
Qual é o método que a psicanálise usa para o tratamento?
A associação - nem sempre - livre, o tratamento por meio da palavra, onde é possível falar e se escutar sem - ou com menos - expectativas e cobranças. Por meio de perguntas, pontuações e até mesmo do silêncio, tentamos dar um novo sentido ao que está sendo dito e consequentemente experenciado por aquele que fala.
Como é a sessão? Sobre o que posso falar?
Sem roteiros, a sessão acontece a partir das queixas e percepções do paciente sobre um determinado assunto que gere afetos conflitantes ou sofrimentos. Nenhuma sessão é igual a outra e a continuidade acontece de várias formas. Para as sessões on-line, é importante estar em um espaço privado e que possibilite conforto para a exposição das questões.
Quanto tempo dura uma sessão?
O tempo necessário para o surgimento, encaminhamento ou elaboração das questões pertinentes ao momento. Na psicanálise lacaniana as sessões têm um tempo variável, o que significa que, em torno de uma média de 40 minutos, é possível encerrar um pouco antes, um pouco depois.
Qual é a duração do tratamento? Quantas sessões preciso fazer?
Inicialmente, prezando pela continuidade e engajamento no tratamento, a recomendação é que as sessões sejam feitas semanalmente, mas, conversados os motivos para tal, desde que não fique prejudicado o bom andamento do trabalho, nada impede outras frequências.
Já que o trabalho é realizado em torno da singularidade, não é definida uma quantidade específica de sessões, sendo de responsabilidade da própria pessoa a continuidade ou interrupção do tratamento. Entendemos a “melhora” como resultado subjetivo de um processo que não está atrelado a um tempo externo e exato, mas sim, ao tempo íntimo de cada um.
Qual é o valor?
Sabendo que o dinheiro costuma ser uma preocupação central na busca por um tratamento, é possível ajustar o valor da sessão caso a caso, levando em conta vários fatores e condições.
On-line ou presencial?
Atualmente, disponho de horários para ambas as modalidades. Presencialmente, atendo na Zona Sul do Rio de Janeiro. Para marcar, você pode responder a este e-mail ou entrar em contato pelo instagram: @carolina__rabelo, que em breve retornarei ;)
-
Na próxima edição da “Mais, Ainda” (link ao finall), falo um pouco sobre uma pergunta que geralmente inquieta quem começa a ter um pouco mais de conhecimento sobre si mesmo: o que eu faço agora?
Hoje, ficamos por aqui.
Mais, ainda #2: e o que eu faço agora?
Olá, Esta é uma edição extra da Boa o Suficiente, dividida em três partes (2/3)
Muito esclarecedor! Adorei! 👏🏻
adorei esse esclarecimento! vou mandar pras amigas que perguntam sobre a psicanálise e me sinto meio inapta a responder (consigo como analisada, mas acho que nunca é a resposta que esperam).