Foi em uma segunda-feira após um final de semana conturbado. Uma em que, logo cedinho, eu decidi que precisava voltar a meditar, escrever um diário, desacelerar, estar mais presente, beber mais água, ir atrás de objetivos mais coerentes e todas aquelas coisas que queremos fazer de uma vez quando nos damos conta de que um certo tempo foi perdido com algo que, afinal, rendeu o que era possível e já foi, ou nem demandava tanto investimento.
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Nesse dia eu tive a última aula de um estudo muito bacana sobre a paranoia, e embora ainda estivesse um pouco dispersa pelas minhas próprias ideias e pela aceleração causada pelo novo café, lembro de um fragmento em que a professora disse que a paranoia também se manifestava em sonhos. Infelizmente não recordo o comentário posterior, mas a informação ficou comigo por uns instantes, suscitou imagens mentais específicas. Deu vontade de fazer um trabalho melhor de equalização dos sons internos.
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Uma amiga mandou mensagem no instante em que a aula ia começar, disse que estava por perto resolvendo burocracias e que depois ia pro santuário de São Judas pedir por um milagre. Não pensei muito, chequei minha agenda, transformei um intervalo que teria após a aula em um auto-convite para acompanhá-la, matar saudade. Depois de mais de um ano morando aqui no Rio, andei pela primeira vez de ônibus (porque o meu negócio é o metrô e a música de The Sims que toca em algumas estações).
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Como era de se esperar, templo mais vazio, silêncio cortado apenas pela música suave ao fundo, alguns outros passantes e a montagem da festa junina. Vi minha amiga fazer as preces dela com confiança, aproveitei pra aquietar um pouco, repensar sonhos, metas, restabelecer algo comigo mesma e com aquela sensação de amparo que facilita seguir em frente. Admirei os vitrais.
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Essa igreja tem uma parte, atrás, onde as pessoas acendem velas e colocam suas plaquinhas de agradecimento ao santo por alguma graça alcançada. Começamos a ler e percorremos todas as grades preenchidas ali, encantadas, curiosas, partilhando alegrias, preocupadas com desconhecidos.
Entre a conquista da Libertadores 2023 pelo Fluminense à venda de apartamentos e coberturas em bairros da Zona Sul, as pessoas demonstram gratidão, principalmente, por questões relacionadas à saúde e à carreira. A cura de alguma enfermidade, a aprovação em algum concurso ou programa em universidade, a conquista de um emprego, o livramento de uma situação de aperto. Uma moça pendurou um agradecimento para cada estágio que passou até conseguir uma efetivação no trabalho, outra pessoa, um comprovante de pagamento.
Tem bastante amor também. Celebração de encontros, retornos, casamentos, reaproximação de famílias, conquistas de amigos.
Alguns colocam mais de uma placa, com data e tudo, e aí dá pra imaginar muitas histórias, onde apesar de tudo, algo segue inabalável, ano após ano. Me peguei torcendo por alguém que vira e mexe aparece pedindo e agradecendo por algum empreendimento no Catete; comovida com uma moça que primeiro comemora a saúde do pai e logo depois demonstra compreensão por sua partida.
Objetos também estão pendurados. Uma tala de pescoço, uma placa de Star Wars, chaves, bichinho de pelúcia. Cada um com seu símbolo e oferta.
“Pela compra da nossa casinha”.
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Terminadas as contemplações, descemos a longa rua intrigadas com o que faz da vida uma boa experiência e as razões pelas quais podemos festejar. Quais são as pecinhas que montam o quebra-cabeça singular de cada um e que resulta numa paisagem que se pode considerar além de bonita, feliz? Ao que devemos agradecer? Aliás, pra quem estamos pedindo alguma coisa?
O café e o matchá hiper faturados de um lugar que gostamos muito, apesar de motivos de celebração, não valem uma plaquinha específica, mas talvez o fato de podermos falar tanto e sobre tantas coisas uma com a outra, em um dia ensolarado, sentadas em um banco no Parque Guinle, lugar em que 2 anos atrás amarrei uma xuxinha de cabelo na grade do lago, fazendo um pedido que foi rapidamente atendido, sim.
Mais, ainda
Um salve aos sommeliers da vida alheia
Acho que eu tenho uma nova autora favorita
Meio de ano, bom momento pra começar a elaborar e reorganizar algumas questões. Querendo? Conhece alguém que precisa?
Tenho alguns horários para atendimento psicanalítico disponíveis.
Só falar comigo. Mais infos aqui.
A Boa o Suficiente é minha tentativa de manter a chama blogueira dos anos 00 acesa, fazer jus ao prêmio que ganhei na 4ª série por uma redação, os semestres de jornalismo e, quem sabe, causar algum efeito positivo nas pessoas que se dispõe a ler o que compartilho nos textos.
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