Mais, ainda #2: e o que eu faço agora?
A pergunta que, analisada, pode mudar bastante coisa
Olá,
Esta é uma edição extra da Boa o Suficiente, dividida em três partes (2/3)
Na primeira edição, falamos um pouco sobre as dúvidas gerais a respeito do começo de uma análise. Quem pode fazer, quando começar, quanto tempo vai levar etc. Se você não viu, é só clicar aqui.
Como dito antes, tem pessoas que chegam para uma análise norteadas por uma resposta previamente construída sobre si mesmas através de diagnósticos, observações e nomeações de terceiros e tal, demandando apenas um ajuste em algo que parece descabido em relação ao que já é familiar ou esperado, e mesmo quem decide apostar em um mergulho um pouco mais profundo e até engaja no processo, acaba se deparando com o momento em que, perante as escolhas que podem surgir com a noção de responsabilidade e certa autonomia, alguns atos passam a ser vistos como necessários.
“Agora eu já me conheço, entendo a situação, mas o que eu faço com isso?”
Este, talvez, seja um dos pontos chave de um tratamento, onde fica exposto o limite de uma compreensão. Compreender não é sinônimo de saber o que fazer. Entender não é o mesmo que dominar ou ter todos os recursos disponíveis para lidar com aquilo, ou pelo menos não imediatamente. Mesmo quando estamos mais “conscientes", não significa que esse conhecimento não possa mudar ou que temos tanto controle assim, basta ver o quanto, para alguns, é preciso antes ou já é satisfatório, “apenas” reclamar.
Acaba que é comum, até pelo desespero de alguns impasses, que a pessoa peça receitas, conselhos, técnicas e até ordens em relação a como deve se portar ou o que fazer, coisa que seria até plausível dentro de um sistema específico de tratamento, mas contraditório em relação a um trabalho que sugere que ela reencontre uma forma singular, que funcione para si mesma, sem tantos imperativos externos.
É muito importante pensar o seguinte: de vez em quando, o recurso ou resposta que o sujeito busca sequer existe, e é preciso inventá-lo.
Dá pra dizer que uma das finalidades de uma análise é possibilitar o encontro com uma fabricação própria, tanto do sintoma como de sua “solução”, feita no tempo do próprio indivíduo, com os meios que ele mesmo possui ou se dispõe a buscar e experimentar. Em análise, há um “suporte” pra isso, construído através da transferência, mediado pela fala e pela escuta, pelas pazes com o próprio desejo.
Quando falamos sobre invenção, falamos também sobre autoria e, consequentemente, responsabilidade. Nem sempre é fácil se assumir criador ou até mesmo participante de uma obra, mas é possível, sim, deixar de temer tanto as consequências de um ato mais pautado em uma escolha particular. Novos contratos podem incluir novas cláusulas, certo?
É bom lembrar também que nem todo incômodo demanda exatamente um ato “corretivo”, e em algumas ocasiões, o próprio reconhecimento e validação de algo desagradável ou difícil sobre si e sobre o outro é o suficiente para o alívio das tensões psíquicas. Não se debater, não querer fugir ou correr do sofrimento é mais significativo do que pode parecer. É possível narrar uma mesma coisa de outra forma e até mesmo aceitar que, em alguns cenários, o feito não pode ser desfeito mesmo, e o que sobra é a oportunidade de construir outra coisa, partindo de outra premissa.
“O que eu gostaria de fazer, afinal?”, podemos nos perguntar.
E a partir daí, quem sabe um “vou tentar…”
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Atualmente, disponho de horários para atendimentos online ou presenciais, na Zona Sul do Rio de Janeiro. Para marcar, você pode responder a este e-mail ou entrar em -contato pelo instagram: @racolina, que em breve retornarei ;)
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Na próxima e última edição da “Mais, Ainda”, vamos falar sobre o tempo de uma análise.
Hoje, ficamos por aqui.