Olá,
Embora esteja levemente complicado aparecer por aqui com certa frequência, gosto muito dos efeitos causados pelo surgimento de algo possível de dividir, das trocas posteriores… ❤
O texto de hoje é mais curto, como na edição “off”, mas acho que vamos iniciar um tema que pode trazer outros desdobramentos.
Com o interesse em me aprofundar nas conversas entre a arte, a literatura e a psicanálise, semana passada assisti a uma aula muito interessante, do professor e psicanalista Fábio Belo, sobre um dos textos do Freud que mais gosto: O poeta e o fantasiar (1908).
Neste texto, resumidamente, Freud delineia um caminho entre o brincar, a criação e a fantasia. Num primeiro momento, fala da importância da brincadeira para a criança, de como o ato de recreação causa um efeito de reorganização do mundo em que aquele ser está inserido, já que movendo afetos internos em direção aos objetos externos, encontra, com sua criatividade, lugares mais prazerosos de estar em ambas as dimensões, e assim, uma cena se constrói de fora para dentro e para fora novamente, onde “(...) passado, presente, futuro, se alinham como um cordão percorrido pelo desejo.”
Com as responsabilidades e moralidades por vezes impostas aos adultos, o brincar infantil se perde e cede cada vez mais espaço a fantasia ou aos ditos sonhos diurnos, que por sua vez também possibilitam um certo escape libidinal, dado que muito do que gostaríamos de realizar se faz secreto, proibido, impossível, distante, em um lugar imaginário, onde pensamos, ninguém tem acesso, ou com ninguém se compartilha.
Daí, comparando e diferenciando brincadeira e criação literária, Freud diz que a fantasia dos adultos (poetas que todos somos) também vem de algo fora e vai para dentro, mas não necessariamente retorna para fora, como se a mobilização do afeto, de maneira íntima, em alguns casos já fosse suficiente para psique, sem a demanda de uma mudança concreta. Com vontade de alguma coisa, o ato de apenas imaginar a obtenção ou aproximação desta coisa já promove algum tipo de realização ou alívio – aqui inclusive, podemos pensar na ambiguidade de muitas atividades e pensamentos... 💭
“Sou da opinião de que todo prazer estético, criado pelo artista para nós, contém o caráter deste prazer preliminar e que a verdadeira fruição da obra poética surge da libertação das tensões de nossa psique. Talvez, até mesmo não contribua pouco para este êxito o fato de o poeta nos colocar na situação de, daqui em diante, gozarmos com nossas fantasias sem censura e vergonha.” - Freud. O poeta e o fantasiar.
E é mesmo bonito considerar o quanto muitas artes nos impactam, abrem caixas e portas inconscientes, oferecem um espelho para que vejamos tanto de nossas dinâmicas e desejos, mesmo que nem sempre as sintamos diretamente ou façamos algo com elas. “Quando o rádio toca uma música de amor, penso que é comigo que conversa o cantor. Como ele sabe tudo que me aconteceu? Mudo de estação, também sou eu.”
Já na aula, o Fábio faz uma provocação bem interessante em relação ao texto, mostrando que, por um lado, Freud também poderia estar indiretamente apontando um certo comodismo que seria causado justamente pela tal fantasia, dado em que ao mesmo tempo em que podemos sim encontrar satisfação e suavização em devaneios (nossos e dos outros), corremos o risco de, na adoção de uma posição muito passiva, ficarmos apenas circulando entre obras literárias, cinematográficas, musicais, artísticas, realizando através delas, e somente assim, nossos desejos. No lugar de uma alteração efetiva e mais concreta, um insight bastaria, mas se nossos próprios sonhos, tanto diurnos quanto noturnos, podem ser lidos como grandes obras criativas e, de vez em quando, tão significativas, o que nos impediria ou facilitaria tentar trazer algo delas para esta realidade? Mais perguntas, afinal…
Quando é que uma fantasia demanda uma ação concreta de seu criador?
Pegar carona na satisfação de um outro é suficiente?
Realizar todo desejo, literal e diretamente, é sempre necessário... ou possível?
A fantasia nos inibe ou impulsiona?
Quanto de uma realidade coletiva, em maior ou menor escala, já se alterou porque alguém, em algum momento, decidiu voltar a “brincar”?
“(...) o próprio poeta gosta de reduzir a distância entre o que lhe é singular e a essência humana em geral; ele nos assegura, com frequência, que em cada um existe um poeta escondido e que o último poeta deverá morrer junto com o último homem.” 💌 Freud. O poeta e o fantasiar.
❓ Brincando na rede social
Não sou muito de postar coisas nesta linha, mas vi que estava rolando a brincadeira e coloquei uma caixinha no Instagram perguntando algo como: “o que te faz lembrar de mim?”. Me diverti muito com as respostas, a maioria com um ar super nostálgico! Pessoas com as quais eu convivia alguns anos atrás, me associando a elementos e atividades de um passado que, na memória, também se faz tão facilmente presente. Foi quase uma viagem no tempo. Obrigada, amigas e amigos! 🧶
🎧 Ouvir
Um tanto de:
E um pouco de:
Na bio do Orkut:
Música - Eclética 😆
🎬 Assistir
Fazendo ligação, por outra via, com o tema da fantasia…
Seguimos…
Até a próxima, pessoas!
Carol.