O fato de que, como adultos, precisamos tomar decisões maiores e menores todos os dias, não é uma novidade. Angustiante para alguns, libertador para outros, uma nova possibilidade todos os dias para muitos. Embora nem sempre seja levado em conta o peso, é inescapável: decisões moldam nossas horas, dias, alteram aos poucos a existência, definem um caminho entre vários. Só que não é sobre as decisões corriqueiras como o que vestir ou o que comer e nem mesmo as de grande importância consciente, como casar ou comprar uma bicicleta, que hoje quero escrever a respeito.
Pegando da fotografia o conceito batizado por Henri Cartier-Bresson de momento decisivo, hoje penso nas circunstâncias (além das estéticas, apontadas pelo mestre) em que todos os elementos favoráveis a uma captura interessante se reúnem em um momento inusitado e passageiro; aquela chance única em que, se não há um repertório prévio e não for feito o clique (ou tomada a decisão), perde-se uma oportunidade que dificilmente se repetirá.
Não dá pra dizer que não acontece, ao longo da vida, o que era absolutamente inesperado; a união do acaso e da sorte, um pegar ou largar que aparece na mesma velocidade em que pode sumir. Desafiando toda a parcela neurótica carregada da necessidade de - muita - preparação e insistência na indecisão, não permite a reflexão demorada, o adiamento ou a listinha de prós e contras. Quando surge aos sentidos, começa uma contagem regressiva, um time attack mode, o que não é necessariamente ruim, mas pode demandar elaboração posterior.
Penso em alguns romances que convidam a uma dimensão mais floreada de um momento decisivo, como aqueles em que personagens são provocados pelo encontro fortuito com um possível par, por exemplo, e simplesmente já sabem o que fazer, deixando para os espectadores um mergulho no vislumbre da coragem e da doçura, ou a torcida pra que aquela troca profunda de olhares no metrô se torne uma corrida atrás de quem poderia abrir uma rota inusitada em meio ao tédio cotidiano. É mais agradável pensar que, quando a chance vem, é impossível resistir, que o certo é agir. Tais construções são inspiradoras.
Tenho na lembrança uma cena muito vívida de uma brecha que se abriu assim pra mim, no corredor de um mercado, quando escutei uma fala que não me deixou dúvidas de que aquele era um momento de captura muito importante. Ali, mesmo que não tenha sido de imediato, tudo mudou com o clique interno.
De um outro lado, obras um pouco mais densas também costuram outra dimensão desse instante de decisão, muitas vezes tomadas num rompante, com um pouco mais de agressividade até, talvez pelo conhecimento íntimo de que outras forças podem facilmente se sobrepor ao risco e “condenar” o sujeito a uma repetição.
Mas, algumas oportunidades vão mesmo passar com a rapidez que vieram, e só. Podemos nos lembrar delas pra contar história, rechear a memória, referenciar, desejar outras mais, brincar de imaginar o que poderia ter sido. Vamos nos contentar com a possibilidade criada em outro plano, e esperamos que sem arrependimento, possamos compreender que o processo de escolha engloba muita subjetividade, seguindo assim, torcendo pra que amadureçam a cada chance as capacidades para que o coração, que seja, aguente apontar, com sabedoria particular, o mais interessante a ser feito, mesmo que, no momento em que aquilo acontece, a melhor decisão seja não embarcar no vagão em que o vislumbre de uma nova vida pode estar.
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A Boa o Suficiente é minha tentativa de manter a chama blogueira dos anos 00 acesa, fazer jus ao prêmio que ganhei na 4ª série por uma redação e, quem sabe, causar algum efeito positivo nas pessoas que se dispõe a ler o que compartilho nos textos.
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