Olá,
Bastante gente chegou por aqui recentemente, e isso me alegra muito!
A Boa o Suficiente é minha tentativa de manter a chama blogueira dos anos 00’ acesa, fazer jus ao prêmio que ganhei na 4ª série por uma redação e, talvez, causar algum efeito positivo nas pessoas que se dispõe a ler o que compartilho nos textos.
Pra quem ainda não sabe, atuo como psicanalista, e a manutenção da clínica em todos os seus aspectos exige uma dedicação que às vezes faz com que as palavras para a newsletter se misturem as tantas outras que escuto e digo pra mim mesma no dia a dia, e daí uma frequência diferenciada de publicação - mas sempre apareço ;)
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O calor absurdo das últimas semanas derreteu meu funcionamento padrão. Não que normalmente eu tenha uma rotina ou hábitos muito endurecidos, mas uma organização em prol da minha sanidade e da qualidade do que tento entregar acontecia, pelo menos até o termômetro ficar sempre acima dos 30º, a sensação térmica batendo perto dos 40º, se não mais, e eu me ver desligando o chuveiro pra tomar banho frio, algo que eu abominava até essa onda começar.
Quase não sei mais o que é ficar sem o ruído do ventilador ou de um ar condicionado ligado. Nunca usei tanto protetor solar na vida. Comecei a gostar de beber água bem gelada. Tenho mais vontade de sorvete e menos de churros. Me acostumei a começar quase todos os atendimentos escutando algo sobre a temperatura na cidade de cada um, mesmo quem mora fora do país. O papo do elevador gira em torno da quantidade de banhos necessários por dia. Passei a considerar inútil ocupar tanto espaço no armário com cobertas. Pego o celular pra comparar o clima daqui com o de outros lugares. A impaciência apareceu com mais frequência. Fiquei surpresa e triste quando escutei n’O Assunto que o calor pode ser pior pros moradores de rua do que o frio. Deixa o verão pra mais tarde. Tá calor até de noite.
Daí, os dias passando de um jeito diferente e readaptado não só as altas temperaturas, mas a outras novidades e mudanças que acontecem mais rápido do que a passagem das semanas, num ritmo entre o lento que clama pelo fim e o acelerado que ainda acredita no tempo das realizações antes que o ano acabe. Escuto de vários amigos os últimos respiros das listas de objetivos pra 2023, também checo os meus. O resultado é interessante. Metas trocadas, queria e não quero mais, consegui sem nem saber que queria ou precisava, precisava e não deu certo, foi melhor assim, mais legal de um outro jeito. Conquistei. Fica pra próxima.
Vejo pacientes alegres com o balanço que fazem, o tal do saldo positivo. Outros, ainda angustiados, afinal, festas por vir, o reencontro com os complexos familiares, a hora de encarar mais de frente questões trabalhadas ao longo das sessões. Brinco que a semana entre o Natal e o Ano-Novo é uma das mais caóticas pra muita gente, e que ao contrário do pensamento comum, aí sim é hora de apostar em uma análise.
Em Past Lives, que agora encabeça a lista dos meus filmes favoritos de 2023 e é uma das coisas mais lindas que já assisti, o silêncio, a ausência momentânea das palavras e os olhares profundos protagonizam uma história marcada pelo que poderia ser feito, dito e transformado, mas não foi, pra que outra coisa pudesse ser. A narrativa é toda muito significativa e delicada, e uma das partes mais tocantes, pra mim, foi quando a Nora, dentro de um limite, disse pro Hae Sung:
“Eu emigrei duas vezes para estar aqui em Nova York. Eu quero realizar algo aqui. Eu quero me comprometer com a minha vida aqui, mas ao invés disso, eu estou olhando passagens para Seul.”
Sabemos de nossos sacrifícios. De quando precisamos enfrentar o calor, nem que seja somente o de dentro.
Quanta coisa viva percebo quando não insisto no fantasmagórico. Presente, mas intocável. Passo as palavras sobre você para outro documento, me pergunto se as memórias vão atravessar o portal imaginário entre o final de um calendário e o início de outro.
Que bom que ainda existem as sombras, o vento, o mar, as conversas mais calmas, o asmr refrescante, os filmes pra cochilar e os pra chorar, fases de gelo e de água, livros curtos, previsão do tempo.
Mais, ainda
A mulher que pintava em público para provar que o trabalho era dela
O processo de escrita da newsletter <3
Suicídio: aos que ficam, a dor e a perplexidade não passam
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Até a próxima,
Carol.
Adorei ler sobre esse balanço de fim de ano, me fez lembrar que eu ainda não olhei totalmente para o meu ano aqui. Ainda não assisti Past Lives, mas curiosíssima com ele aqui faz meses já! haha
Obrigada por mencionar a Andanças nos links! <3
Me identifiquei com "mais vontade de sorvete que churros" e mais um monte de outras coisas. Adorei! 👏